Refletindo sobre... Silas Malafaia e debates genéticos?

Sem tempo pra ler? Ouça o post! Data da publicação do post: 21/03/2013. Data da publicação do artigo: 06/03/2013


NOTA: Este blog nunca foi criado com o fim específico de publicação de nenhuma postagem crítica acerca de qualquer assunto polêmico na sociedade. Tratava-se de um blog destinado simplesmente a publicações aleatórias e raras sobre minhas reflexões. No entanto, considerei que um blog parado poderia se tornar uma boa ferramenta de publicação de um tema que tem me afligido bastante nas últimas semanas, por isso alterei o endereço o nome do blog para que ele se adequasse ao caso. Não tenho nenhuma pretensão de que o texto seja amplamente lido, nem pretendo me tornar assídua escritora de inúmeros posts sobre isso. Só espero que para quem o fizer seja proveitoso. Boa leitura e retenha o que for bom!

Imagem reproduzida do blog Não Salvo
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Tenho ficado extremamente incomodada com esses debates que andam em voga em relação ao Pr. Silas Malafaia e ao doutorando em genética Eli Vieira. Se você ainda não conhece o assunto, dê uma olhada nos links do final deste texto...

Particularmente, achei interessante quando Malafaia começou a trabalhar com debates sobre a aprovação do PLC122 (e isso não é recente), visto que, a despeito de ser ou não correto, escolha ou não, ser homossexual, a liberdade de expressão precisa ser considerada. O problema da lei é que ela prevê punição para discurso de ódio contra gays. Mas como definir discurso de ódio? Quem decidiria qual direito valerá mais? O de um cristão que se pronuncia (ainda que pacificamente) contra homossexualidade (garantindo sua liberdade de credo) ou do homossexual que julga ser vítima do discurso de ódio? Como definir qual desses direitos vale mais se não for definido o que é o tal do discurso de ódio?

Sob este ponto de vista, a liberdade de expressão deve ser considerada para ambos os casos, assim como ocorre intolerância de ambos os lados (e já tivemos provas veiculadas na internet e na TV – nem sempre na TV) sobre isso.

Neste sentido, julgo que a igreja tem o direito de se posicionar diante das questões polêmicas da sociedade, principalmente quando se envolve a criação de leis. E o Pr. Silas acabou se tornando a maior representação do grupo evangélico em relação à liberdade de expressão da igreja no que se refere a homossexualidade.

Não escrevo para dizer se ser ou não homossexual é certo ou errado, ou se um gay nasce assim ou não. Também não escrevo para criticar a forma de expressão acalorada do Pr. Malafaia (desde que o conheço na mídia ele é assim, embora acredite que seu discurso intenso favorece interpretações em alguns momentos distorcidas sobre a ideia que ele pretende passar, pois soa autoritária) ou sua conduta como pastor. Inclusive, o parabenizo por mostrar em seu programa no último final de semana sua declaração de imposto de renda (há quem diga que isso não provou nada - e para mim também não - mas já é um avanço para a população evangélica brasileira saber, pela boca de um pastor, que ele possui patrimônio de mais de 4 milhões de reais, pois nunca vi nenhum pastor representativo na mídia falar acerca de questões do tipo). No entanto, não posso deixar de observar algumas questões sobre o uso de palavras e argumentos  que considero irônicos, desrespeitosos e algumas vezes tolos. E não falo isso somente do Pr. Malafaia.

A internet está bombando de vídeos, opiniões diversas e comentários que foram todos gerados a partir da entrevista do Pr Malafaia no programa “De frente com Gabi”. Não assisti o programa na TV, mas como sou evangélica e muitos evangélicos assistiram, fiquei logo sabendo do fato e procurei assistir na internet.

Para mim, nada de novo, ele falou diversas coisas que já tinha ouvido, exceto (estou me referindo à minha percepção sobre isso) argumentos embasados na ciência que confirmariam que homossexualidade não tem causa genética. Usou alguns dados que ele tratou como científicos mostrando uma relação entre homossexualidade e abuso sexual na infância, disse que não há “ordem cromossômica homossexual”... enfim. Esse tipo de argumento me chamou particularmente a atenção porque sou formada em biologia e farei mestrado em genética (inclusive já fui aprovada para ingresso, aguardo somente o início das aulas). Alguns dias depois, descobri por acaso, numa conversa com colegas de trabalho, que um geneticista havia respondido a argumentos dados nessa entrevista, e como bióloga não poderia deixar de ver. O doutorando Eli Vieira, pelo que vi rapidamente no currículo Lattes, trabalha com evolução molecular, genética quantitativa e ensino de evolução, o que dá a ele uma visão muito ampla de como as características podem variar e se modificar em populações,  e não apenas considerando-se indivíduos isolados, o que, a meu ver, dá a ele certa propriedade de analisar, no que lhe compete, a questão da base genética para a homossexualidade.

Como formada em biologia e como nascida e criada em igreja evangélica, também tenho minhas convicções e opiniões sobre assuntos diversos que muitas vezes se chocam com os conceitos das classes. E também me considero como minoria, já sofri preconceito religioso várias vezes, mas também já convivi com pessoas que, embora claramente não concordassem com minhas ideias ou mesmo acreditassem em Deus, nunca me faltaram com o respeito como ser humano. Não posso rebater com absoluta propriedade com a teologia, com a psicologia ou mesmo com a genética sobre o tema que me leva a escrever este texto, mas há em toda essa história coisas que preciso mencionar, como leiga, ou como conhecedora superficial.

1º - Sobre o PLC122

O Pr Silas Malafaia, ao iniciar seus discursos sobre a não-aprovação da lei há alguns anos atrás, deixava claro que criticar conduta não era discriminar pessoas, e que se ele visse um homossexual sendo agredido ele seria testemunha a favor dele, mas não concordava que existisse uma lei ancorada no racismo para protegê-los.

A intenção de Malafaia era proteger o direito da igreja em não concordar com prática homossexual e as crenças e valores dessa classe.

Particularmente não acho que a lei deva ser abolida em sua totalidade, mas não vou me ater neste assunto por não ter conhecimentos plenos de legislação e poder incorrer em erros grotescos ao tentar expor minhas ideias. No entanto, li um texto interessante do Pe. Anderson Alves que tratou sobre o assunto. Não estou fazendo de suas palavras as minhas, mas ele coloca alguns reflexões que a meu ver são importantes para a discussão do tema.

“A questão jurídica séria que aparece aqui é o fato de que ninguém pode comprovar qual seja a orientação sexual de outra pessoa e, simultaneamente, ninguém é obrigado a declarar qual essa seja. E conhecer dita identidade, no caso de que exista, seria indispensável para que pudesse haver um juízo sério contra uma pessoa acusada de “preconceito”, em razão de “sexo, orientação sexual ou identidade de gênero”, como prevê esse projeto de lei. Isso é assim porque o Direito só pode julgar os atos externos das pessoas, realizados através do corpo, e não pode julgar alguém segundo suas intenções mais íntimas. O Direito não possui instrumentos para provar que uma pessoa agiu de determinado modo porque possui essa ou aquela intenção, essa ou aquela maneira de pensar, pois não pode (e nem deve) conhecer a intimidade das pessoas.
Tudo isso nos faz concluir que dita lei é pouco racional e absolutamente inútil. Irracional por causa dos princípios contraditórios dos quais parte, por causa da ambiguidade do seu texto (capaz de deixar perplexos até mesmo os líderes do movimento LGBT), porque exige do sistema judicial algo que esse não pode comprovar: o fato de que houve realmente um “preconceito”. Dita lei é inútil porque qualquer acusado poderia se defender alegando que não é preconceituoso porque pensa, no âmbito da sexualidade humana, do mesmo modo que pensa o acusador, algo que não pode ser comprovado por nenhum juiz humano.
E o caso do artigo sétimo de tal lei? Tem algum sentido? O texto diz: “induzir alguém à prática de violência de qualquer natureza, motivado por preconceito de sexo, orientação sexual ou identidade de gênero”. É difícil ver sentido nesse texto devido à sua ambiguidade, o que poderia causar graves injustiças. Em particular, o que significa “violência de qualquer natureza”? Segundo uma parte da filosofia contemporânea, de base nietzschiana, alguém que pretende dizer algo, considerado como “verdade”, comete já um ato de violência. Para esses filósofos ninguém pode afirmar de possuir a verdade, de modo que “dizer a verdade” é uma forma de violência contra quem não pensa de modo igual.

2º - Entrevista com Marília Gabriela

Achei estranho porque na entrevista Malafaia não foca seu discurso na lei, mas todo o programa gira no debate acerca de homossexualidade ser ou não genética. Somente por aí, já julgo que, principalmente considerando-se a repercussão da entrevista, ela soou como um discurso de reprovação ao que chamarei de “conduta gay”, e somente isso.

Onde estava o primeiro foco?

Fiquei pensando no que teria levado a essa inversão de foco no discurso do Malafaia em relação aos homossexuais. Talvez partiria da premissa de que, “provando” que homossexualidade não é genética e sim um comportamento, e portanto diferente do negro, que nasce assim, por exemplo, a lei não se aplicaria?

Sinceramente, não consegui imaginar outra possibilidade para essa alteração de foco no discurso, a menos que tenham sido perdidos os objetivos iniciais para transformar o caso numa discussão tola e sem sentido, que só servirá para agregar ódio e distorcer as reais intenções das reivindicações da igreja. Mas com toda a honestidade do mundo, não quero acreditar que essa tenha sido a motivação.

3º - A resposta de Eli Vieira a trechos da entrevista

Não irei dizer que Eli Vieira é um charlatão, tampouco que malafaia o é. Mas é preciso considerar que há várias coisas que devem ser analisadas:

Diante da frase de Malafaia que afirma que “ninguém nasce gay”, Eli Vieira respondeu que ninguém nasce em termos genéticos com muita coisa, um bebê por exemplo só chora e mama. Dessa forma, o que o Pr. deve ter tentado dizer é se há influência genética na manifestação das características homossexuais, o que ele pode garantir em literatura farta que há. A partir de então, ele apresenta vários artigos científicos que sustentariam suas afirmações. Chamou-me a atenção que ele procura deixar bem claro que não existe mais a visão inatista de que tudo seria genético ou tudo seria fruto do ambiente, e que devemos analisar fatores genéticos considerando-se que diferentes características são expressas em determinados momentos da vida ao longo do desenvolvimento do indivíduo e recebem forte influência do meio. Esse conceito é importante para analisarmos a procedência das informações dele.

O artigo principal trata de um compilado de estudos dos últimos 50 anos que abordou a relação entre a orientação sexual de gêmeos idênticos ou fraternos, e com base neste estudo ele verificou que quando um gêmeo idêntico (monozigótico) era gay, a probabilidade de que o seu irmão também fosse gay era maior, quando comparadas as mesmas questões em gêmeos não idênticos (fraternos). O próprio Eli Vieira deixa em seu site as referências, então fui buscar este artigo para checar as informações.

De fato, ninguém neste estudo analisou um gene ou um conjunto de genes, e seus efeitos de expressão em um indivíduo, mas foram levantados dados que de fato apontam para uma relação entre homossexualidade e gemelaridade monozigótica. É claro que este estudo não deve ser considerado como único critério para fazer nenhum tipo de afirmação, afinal o próprio artigo informa que alguns trabalhos analisados apresentaram erros metodológicos (que podem influenciar nos resultados), e que a seleção dos indivíduos do estudo possa ter recebido influência da divulgação mais direcionada a homossexuais. Isso não invalida o estudo, mas são fatos omitidos pelo Eli Vieira quando apresentou a tabela. Da forma como ela foi mostrada, a relação parecia óbvia e indiscutível para o público leigo. Mas vale lembrar que por trás de todo dado estatístico existe uma história, uma seleção de indivíduos ou objetos para estudo, a forma de levantar os dados e de tratar as informações.

Para mim ficou claro que Eli Vieira ressaltou várias vezes que não se deve mais analisar as questões inerentes aos genes como as únicas decisórias de características ou comportamento de indivíduos. O papel do ambiente é fundamental na manifestação do fenótipo. No entanto não sei se isso ficou claro para o público leigo em termos práticos.

De qualquer forma, creio que a intenção dele foi de refutar verdades dadas como absolutas que o Pr. Malafaia tentou mostrar em relação à genética. Em outras palavras, ele defendeu sua área de atuação de informações que considerou incorretas. E de fato, muitas das afirmações dele deveriam ter sido analisadas e refutadas pelo Pr., o que não ocorreu. Mais adiante, discorrerei sobre este assunto.

Infelizmente, não tive acesso a todos os artigos, alguns deles só podem ser comprados ou acessados na íntegra a partir de universidades, e neste momento ainda estou sekm login para buscá-los. Outros artigos não consegui ler por falta de tempo. Mas acredito que eu possa questionar e contestar algumas coisas sobre o material a que tive acesso.

Tomei como base de comparação em relação ao trabalho principal apresentado por Eli o artigo que ele próprio encontrou no qual constavam os poucos números apresentados pelo Pr. Silas Malafaia como sustentáculos para sua teoria, no qual ele afirmava que 46% dos homossexuais haviam sido violados e violentados na infância, apontando esse fato como causa da homossexualidade. Eli Vieira contestou bem a informação dizendo que o fato de haver correlação entre questões não implica necessariamente em relação de causa e efeito. Infelizmente, não tive acesso ao artigo na íntegra, mas pelo conteúdo do resumo posso dizer que Malafaia errou ao utilizar esses dados. O artigo diz que 46% dos homens homossexuais analisados, em contraste com 7% dos heterossexuais, relataram abuso sexual homossexual, e 22% das mulheres homossexuais em contraste com 1% das heterossexuais relataram o mesmo abuso.

Mesmo não tenho acesso a mais informações do artigo, contrastando com a fala de Malafaia é fácil perceber que o fato de haver uma aparente relação neste estudo entre homossexualidade e abuso sexual homossexual na infância, isso não necessariamente prova que essa foi a causa da homossexualidade, e além disso decidir que 54% escolheram ser é extremamente, com o perdão da palavra, ridículo! Que critérios foram utilizados para fazer tal afirmação?

Ainda que haja uma relação comprovada entre abuso sexual e homossexualidade, por si só esse fato não elimina bases genéticas para o comportamento. Como já foi explicado pelo Eli, não se pode procurar somente por um gene responsável por determinada característica, e existem critérios para se definir  numa população qual é a importância dos genes ou do ambiente para a manifestação dessa característica. Vejo que os 2 artigos apresentam evidências, não certezas, logo, é uma área que precisa ser discutida, principalmente considerando-se que definir bases genéticas para o comportamento é algo difícil de ser feito.

Eli Vieira também citou um estudo que avaliou as diferenças entre homo e heterossexuais na percepção do hormônio androsterona, responsável pelo odor masculino. Infelizmente, também não tive acesso a este material na íntegra, mas pelo resumo é possível observar que apesar de a percepção do odor ser maior em homossexuais, não pareceu haver resposta emocional a esta molécula. Então? Será que as condições do estudo desfavoreceram a resposta emocional ao odor? Ou houve alguma outra questão envolvida da qual não tivemos conhecimento?

Não vou mais falar sobre este artigo porque não o li, mas acho que essas questões devem ser analisadas.

Não posso deixar de mencionar afirmações como:

“não existe uma prova científica da homossexualidade como genética”
Pensando no raciocínio de Malafaia e com base nos argumentos dos artigos que analisei em ambos os lados da discussão, se não há prova científica da homossexualidade gerada por causa genética, também não haveria prova científica de que a genética nunca esteve nem estará relacionada ao assunto. Uma ideia ou verdade cientifica é válida até que seja refutada. Já acreditamos que a terra era quadrada, mas nem por isso ela já foi quadrada. O argumento é construído sobre fundamento nenhum. É importante pensar nisso.

“35% dos gêmeos que são homossexuais, do outro, 65% são heterossexuais, então como é genético?”
Sinceramente, não entendi o que ele quer quis dizer, a frase dele ficou confusa.

4º - a resposta de Malafaia

Após o vídeo ter sido veiculado na internet, aguardei a resposta do Malafaia com suas referências; afinal, não são muitos pastores que fazem colocações científicas, logo imaginei que ele tivesse estudado profundamente o assunto. Mas me decepcionei com a resposta, foi a mais sem fundamento que já o vi utilizando.

O vídeo já começa com Malafaia agredindo o doutorando Eli Vieira, o chamando de pseudodoutor. Eli Vieira pode ter sido até irônico em seu vídeo em alguns momentos, mas ele não chamou o pastor de mau-caráter, ladrão, mentiroso... Ele apresentou argumentos que defendiam sua visão sobre o assunto. O que Malafaia fez foi atacá-lo de graça no início do vídeo, o que para mim é uma forma de sugestionar o público do vídeo (que acredito que em maioria seja evangélico) a desacreditar no trabalho do estudante de doutorado.

Eli Vieira está fazendo doutorado em Cambridge, o que indica no mínimo que ele não fez sua faculdade e mestrado de qualquer maneira, e que tem sido digno de sua posição como profissional. O Pr. Malafaia não tinha o direito de rebaixá-lo em sua profissão, a despeito de concordar com suas ideias ou não.

“o cara está legislando em causa própria”
Não vou comentar sobre essa fala...

Malafaia fez um breve discurso sobre o conceito de verdade científica e teoria científica, tratando como teoria aquilo que não pode ser provado cientificamente, logo, a questão homossexual e os estudos gerados são teorias, e não provas, porque não seriam reprodutíveis.

Não vou me estender muito neste assunto, mas o conceito de teoria em ciência está longe de ser o mesmo da população leiga. Teoria é definida como um modelo científico que descreve um fenômeno. O fato de ser teoria não significa que tenha sido tirado de trás da orelha! Uma teoria é amplamente discutida, são apresentadas evidências... não é simplesmente uma suposição. É importante ter cuidado com essa questão. E aliás, o debate inicial do Malafaia girava em torno da lei, não era? No que provar que a relação genética x homossexualidade é teoria e não pode ser provada ajudaria a tratar a QUESTÃO INICIAL do Pr.?

“não existe ordem cromossômica homossexual”
O que é ordem cromossômica? Definir se há ou não influência dos genes no comportamento homossexual não estaria ligado necessariamente a um cromossomo específico para homossexual, se assim fosse teríamos sérios problemas ao explicar que existem por aí indivíduos Xo, XXY, XXX.

Como referências, Malafaia cita um relato de Francis Collins, um dos maiores geneticistas do mundo e diretor do projeto genoma, que segundo Malafaia era alguém em que se podia acreditar, ao contrário de uma pessoa “que nem tirou as fraldas da genética”.  Malafaia afirmou que Collins disse que não havia gene que provasse que uma pessoa nascesse homossexual, e que predisposição não significava ser.

Ok, já conhecia trabalhos do Francis Collins, sei que ele é cristão e tenho um livro dele intitulado “A linguagem de Deus”, comercializado pela editora Gente. Fui buscar neste livro onde estava o relato de Francis. O que encontrei foi o seguinte:

Uma questão que apresenta interesse público destacado é a base genética para a homossexualidade. As evidências coletadas em estudos com gêmeos idênticos de fato respalda a conclusão de que fatores hereditários desempenham um papel na homossexualidade masculina. No entanto, a probabilidade de gêmeos idênticos de um pai homossexual também se tornarem gays é de 20% (comparada aos 2% a 4% de homens na população geral), indicando que a orientação sexual tem influência genética, embora não esteja conectada ao”hardware” do DNA, e que quaisquer genes envolvidos representam predisposições, não predeterminações”.
(COLLINS, F.S. A linguagem de Deus. Gente, 6ªed., p.262-263)

Bom, acho que fica claro que não é bem isso que Collins fala. E além disso, colocar os títulos de Collins como explicação para o fato de que seja  verdadeira a sua informação não é elegante. O título de Collins dá a ele propriedade de falar de assuntos pernitentes à genética, mas por si só não prova que o que ele disser é verdade. O que deve ser apresentado não é o titulo dele, é o argumento.

Malafaia também contesta o trabalho apresentado por Eli em relação às alterações do cérebro de homens homossexuais quando comparados a homens heterossexuais, mostrando similaridades com o cérebro feminino heterossexual. Ele diz que se parecer não é ser, e usou um exemplo de que ratos (ou camundongos) são bons modelos experimentais porque são similares ao ser humano, embora não o sejam. E termina perguntando: “por acaso você é rato? Porco? Cachorro? Vai estudar genética!”

Sinceramente, não entendi o comentário, pois foi bastante ilógico. Uma coisa é usar camundongos como modelo experimental pelas similaridades fisiológicas com o ser humano, outra coisa é mapear o cérebro de indivíduos e tabular semelhanças e diferenças entre eles. Não li o artigo, mas o argumento do Pr. não é nada convincente.

Por fim, usa o livro “nascido gay”, de um homem que é doutor em genética e filosofia e estudou 20 anos sobre o assunto, “logo ele deve ter razão”. Até aí tudo bem (tirando a supervalorização do título), mas se os artigos e materiais foram tirados do livro, por que não apresentar os artigos ao invés de apontar livro que é comercializado na sua própria editora? Retirar a editora não daria mais credibilidade à sua fala?

Até gostaria de ler o livro, mas não o encontrei ainda. Em momento oportuno tentarei fazer isso.

5º - a resposta à resposta

Recentemente, vi um vídeo circulando na internet com poucos acessos ainda no qual o login do autor comentava vídeos relacionados para chamar a atenção para o seu. Ontem me deparei com este vídeo publicado no site do Pr. Malafaia, no qual o autor capta trechos do vídeo de Eli e questiona alguns dos seus argumentos.

Alguns questionamentos sobre o artigo principal (o dos gêmeos) eu já havia tratado no texto, embora com algumas considerações que devem ser analisadas. O restante dos argumentos não julguei extremamente relevantes, só me chamou um pouco a atenção a apresentação dos dados do “artigo-base” do malafaia, que eu já havia visto no resumo do material. O questionamento procede, no entanto Malafaia coloca o assunto como verdade absoluta e omite informações, o que desqualificou sua análise.


Após quase a escrita de um livro sobre o assunto (ufa) quero deixar claro que não tenho nenhuma pretensão de dizer o que é certo ou errado para a vida de ninguém, nem colocar minhas análises como o esgotamento do assunto (tampouco dizer que elas estejam certas) mas acredito que todas as afirmações feitas até agora tem sua pitada de “brasa para a própria sardinha”. A despeito de ser escolha ou não, ou de você ou eu concordarmos ou não com a homossexualidade, as pessoas precisam ser respeitadas. Tenho certeza que muitos de vocês não irão concordar com nenhuma frase minha, mas isso não dá o direito a serem feitas ofensas à moral ou à minha dignidade. Você pode criticar as minhas ideias, pode até me achar louca, estranha, ou seja lá o que for, pode não gostar de mim, mas não pode impedir meu direito de expressar.

No entanto, creio seguramente que neste jogo não estamos mais em busca da verdade ou da construção dela; caminhamos para uma disputa de poder numa discussão que poderia ser saudável e construtiva para a sociedade brasileira e para a igreja. Infelizmente não é o que parece ocorrer para ninguém.

Somente lamento e aguardo os próximos acontecimentos, esperando que tanto a igreja quanto a sociedade em geral saibam analisar os fatos e refletir sobre o assunto sem extremismos, não importa qual seja a ideia defendida...

Um forte abraço

Links dos vídeos em voga:

- Entrevista do Pr Silas Malafaia ao programa “De frente com Gabi”

- Resposta de Eli Vieira ao Pr Silas Malafaia

- Resposta de Silas Malafaia ao Geneticista (Eli Vieira)


- Pseudogeneticista gay que combateu Pr Silas Malafaia é desmascarado (este link é o do próprio site verdadegospel, que também foi divulgado no twiter oficial do próprio Silas malafaia)